Cidades

Exposição reúne casos de mulheres vítimas de violência

Idealizadora da exposição, Mariana Valentim, também conta que foi vítima de violência.

Por: Da Redação atualizado: 11 de setembro de 2021 | 09h52
Varal com os painéis impressos que foram publicados nas redes sociais, reunindo histórias de mulheres vítimas de violência (Cedida). Varal com os painéis impressos que foram publicados nas redes sociais, reunindo histórias de mulheres vítimas de violência (Cedida).

Duas iniciativas em Lucélia neste mês de agosto marcaram o período de conscientização e combate à violência contra a mulher. O “Agosto Lilás” foi debatido na cidade pela Prefeitura, por meio da divulgação de conteúdos de orientações e esclarecimentos, e ações desenvolvidas sobretudo pelos órgãos da área da assistência social, e por uma nova abordagem idealizada pela professora e vereadora Mariana Valentim. 

Com o objetivo de tentar ampliar o alcance dessas discussões e levar o debate a um maior público, a vereadora usou suas redes sociais e fez 31 publicações – uma a cada dia do mês de agosto – expondo casos e relatos de mulheres que foram vítimas de violência. As publicações fizeram sucesso na internet e ganharam uma versão física, com a impressão das artes digitais e a afixação em um varal, no Paço Municipal.

A mostra ocorreu no último sábado (28) pela manhã e se repetiu nesta segunda-feira (30) e terça-feira (31), onde o público pôde ter um outro tipo de contato com esse tema. Na exposição a idealizadora esteve presente, o que também estimulou as discussões e reflexões sobre a violência doméstica.

Os painéis digitais e também impressos trazem casos de repercussão nacional, envolvendo mulheres vítimas de violência, como da artista Gretchen e da apresentadora de televisão, Palmirinha. Porém, o destaque foi a abordagem dada aos personagens locais.

Na exposição, Mariana apresentou o caso da jovem adamantinense Vanessa Nery Maciel, morta em maio de 2019 pelo ex-companheiro, em Adamantina, por não aceitar por não aceitar o fim do relacionamento. Julgado em outubro do ano passado, ele foi condenado a 27 anos de reclusão (leia mais).

A mostra aborda também a morte de outra adamantinense, Nayra Bonatto, ocorrida em Lucélia, no último dia 8, em pleno mês dedicado ao tema. Ela foi agredida e morta pelo namorado, preso em flagrante no dia do crime. Nayra foi encontrada sem vida, em um buraco em meio à uma propriedade rural nas proximidades da vicinal Lucélia/Pracinha (leia mais).

A própria história

Nesta terça-feira (31), no último dia do mês dedicado ao tema, a idealizadora da exposição surpreendeu contar que foi vítima de violência. O relato está em suas redes sociais onde encerra o ciclo de 31 publicações sobre o tema, e também é um dos painéis que compõem o varal.

Veja o texto que faz parte da publicação:

“Saiu de casa aos 16 anos para morar com o namorado que era 7 anos mais velho. Casou-se, e já nos primeiros meses de relacionamento surgiram os sinais de ciúme excessivo e possessão. Com 6 meses que estavam morando juntos, ele a agrediu pela primeira vez e assim que pôde, Mariana contou o ocorrido para a mãe do seu então marido que omitiu socorro e a disse que seu filho era assim mesmo, agressivo e que ela que se entendesse com ele. As agressões começaram a acontecer com mais frequência, Mariana já não podia mais ter contato com as amigas ou família. Teve seu celular quebrado, sandália e vestido de formatura cortados em pedaços. O pesadelo durou 2 anos e meio, até que ela conseguiu se libertar desse relacionamento doentio e abusivo”.

Choque e conscientização

Ao AQUI LUCÉLIA, Mariana contou sobre a repercussão da iniciativa. Nas redes sociais muitas manifestações estão expressas nos comentários, o que também gerou reações na mostra física. “As pessoas passavam, pararam e conversaram comigo. São as mulheres se sentindo representadas”, destaca. Ela também ouviu demandas da população, relacionadas às questões da cidade e à atuação como vereadora.

Mariana espera que a iniciativa, e as demais ações realizadas pelo poder público, sociedade civil e campanhas, permitam sensibilizar o público. “Espero conscientizar e chocar as pessoas”, diz. “E mostrar para as mulheres que elas não estão sozinhas, que tem alguém que está apoiando, e que denunciem sem medo”, continuou.

Na sala de aula, onde é professora para estudantes do ensino médio, ela também trabalha esse tema com os alunos. “O objetivo é orientar e educar as meninas para que, já nos primeiros sinais de agressão, possam identificar, consigam sair e avisar alguém”, explica. “E aos meninos também, mostrando que existe lei e punições para isso”, completa.

Por fim, ela se põe motivada a manter ativa a discussão e a colaborar com o tema. “O que eu puder fazer para ajudar, apoiar e espelhar outras mulheres, vou estar empenhada”.

Pandemia e violência à mulher

Uma em cada quatro mulheres sofreu algum tipo de agressão durante a pandemia, seja ela verbal, sexual ou física. Ao todo, são 17 milhões de mulheres agredidas entre junho de 2020 e maio de 2021, ou 24,4% do total.

Os dados são de pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A diretora executiva da organização, Samira Bueno, destacou, entre outros pontos, que as consequências econômicas da pandemia podem ter agravado a violência contra as mulheres, uma vez que o desemprego e a falta de recursos financeiros podem ter levado muitas a optar por continuarem vivendo com seus agressores.

Como denunciar

A denúncia de violência contra a mulher pode ser feita em delegacias e órgãos especializados, onde a vítima procura amparo e proteção. O Ligue 180, central de atendimento à mulher, funciona 24 horas por dia, é gratuito e confidencial. O canal recebe as denúncias e esclarece dúvidas sobre os diferentes tipos de violência aos quais as mulheres estão sujeitas. As manifestações também são recebidas por e-mail, no endereço ligue180@spm.gov.br.

Dados do Ligue 180 mostram que, além da física, a violência psicológica é uma das mais frequentes. Mesmo quando não há a agressão propriamente dita, as ameaças já caracterizam crime. Também nesses casos, as mulheres podem procurar o atendimento telefônico para realizar as denúncias ou buscar informações acerca dos seus direitos e da legislação aplicável.

As denúncias também podem ser feitas aos órgãos locais da Polícia Civil e da Polícia Militar.

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